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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Querido Avô

É como se estivesse perante os teus olhos, é como se me encontrasse na tua presença. É estranho este meu sentimento. Tenho saudades tuas e peço desculpa por não te conseguir demonstrar isso. Já partiste à seis meses e sei que idealizas um má ideia de mim ou então, até não. Aconteceu tudo tão rápido e numa fase super agitada e má da minha adolescência e tu sabes, querido Avô que é uma coisa bastante complicada. Não conseguia reparar nas pessoas esbeltas que me rodeavam, não conseguia ver e embora eu saiba que era grande, o amor que tinhas por mim. Julgava tudo errado e eu a única certa, todos os conselhos para mim não eram nada, ou talvez fossem, talvez para mim não passassem de tentativas para estragar a minha felicidade. Isto é o que o amor nos pode causar - atitudes que nos levam a perder muito. Perdi-te para sempre. 
Actualmente tenho o hábito de usar o "para sempre" em todas as minhas boas aventuras, em todas as minhas relações e depois, quando acabam fico na desilusão comigo mesma por ter acreditado. Contudo esta é a única vez que o "para sempre" é real e para te ser franca às vezes ainda a julgo uma mentira, à poucos dias atrás ainda entrava em tua casa e olhava para o cadeirão de palha onde te costumavas sentar com a mão por cima da tua grande barriga, e esperava alcançar um sorriso. Foram imensos os dias em que cheguei à tua casa e me deparei com a estranha sensação de olhar para cima, onde muitas vezes passavas as tuas tardes de cigarro na mão. É muito esquisito perder-te assim, porque imaginava que Deus não poderia levar alguém como tu, uma pessoa tão fantástica e invulgar. 
Quando era pequenina tomavas conta de mim e creio que é por isso que somos tão parecidos. Ambos temos aquele feitio difícil de entender e era por isso que às vezes quando me sentia injustiçada, dirigia-me ao teu ponto de vigia - um canto situado na parte cima da vivenda amarela e vermelha, e desabafava contigo, eras quem mais me apoiava e dizia as palavras certas, sabias exactamente como me por um sorriso de orelha a orelha. Sinto muitas vezes a tua falta nesse aspecto, e à noitinha ainda chamo por ti, digo o teu nome baixinho para ver se alcanças o meu tom de voz suave, e depois me fazes sonhar contigo mas até hoje e se nunca aconteceu, sinto-me mal por isso. Gostava de sonhar contigo, sabias? Sonhar que estamos os dois numa praia deserta com tudo aquilo que tu mais gostas - um cigarro entre os dedos e um copo de vinho a acompanhar, ou então sonhar apenas com o teu tom de voz meigo, e grave a apontar-me o dedo por todos os erros, e dizer-me qual o melhor caminho a seguir porque me sinto sozinha e esse conselho agora viria mesmo a calhar. Espero por ti todos os dias, sempre... Queria que soubesses que me recordo de ti, e que te amo mais do que qualquer pessoa no mundo. Um beijinho da tua neta, Lara Vidal.

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